quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Senhorio das fronteiras

Em homenagem ao dia do psicólogo, 27/08, aqui vai um artigo temático; alerta para nos cuidarmos.

Você sabe que é dono de fronteiras?

É certo que fronteira é uma divisória que separa dois ou mais locais. É algo que está “entre”. Pode ser um portão, uma cerca, uma faixa, um muro, um rio, etc. Ela define o que está aqui, e o que está lá.
Por certo a pele é a nossa fronteira com o mundo. Está entre o que eu tenho dentro (órgãos, sangue, etc.) e o que está fora. Ela me protege e me dá um contorno formando minha figura que é única.
Do ponto de vista psíquico a fronteira me diferencia do que sou e do que não sou, do que tenho e daquilo que não me pertence. Quem não tem essa noção clara se deixa invadir e/ou invade o que é do outro. O ladrão, o corrupto e o manipulador fazem isso.
Como a fronteira delimita meu contato com o mundo é nela que realizo meus relacionamentos. Quando ela é rígida demais eu não consigo fazer trocas com o ambiente. Nada entra e nada sai de mim. Não experimento, não me transformo.
Se ela é fluida demais, qualquer coisa a penetra e entra no meu mundo. Portanto se algo ruim entra sou eu quem o permite. Eu posso deixar que me invadam, por exemplo, por medo, ingenuidade, necessidade de aceitação, vergonha, etc. Só que nem sempre eu tenho consciência disso.
De fato sou eu quem precisa cuidar das minhas fronteiras e dos relacionamentos que nela ocorrem. Para isso preciso observar como meus contatos ocorrem, fortalecer a minha cerquinha, os meus limites.
Se minha fronteira psíquica for fluida e firme o suficiente ocorrerão trocas de conhecimentos e sentimentos. Haverá reflexão e transformação da minha mente. Possibilitará a diferenciação entre o bom e o ruim e haverá proteção. Isso traz segurança: ganho noção de quem sou, aprendo a discernir até onde posso “entrar” na vida do outro, aprendo a entendê-lo e respeitá-lo. Para tudo isso eu preciso perceber o que quero e o que não quero.
Outro dia uma pessoa reclamou que sua amiga se aproxima tanto a ponto de cuspir nela. Daí ela dá um passo atrás - tentando recuar a sua fronteira invadida para se proteger. Mas a amiga avança. Ela tem pelo menos duas saídas: interromper a conversa e sair - limite físico - ou colocar limites verbais: “você está cuspindo em mim", ou "eu não gosto que você cuspa em mim, por favor, fique mais distante do meu sanduíche”.
Os limites são a representação da fronteira. Por isso a frase: “Limites nos protegem”.
Quando somos invadidos sentimos que as coisas de fora vêm com força e derrubam o portão de entrada. Algumas vezes a pessoa permite que situações nocivas e destrutivas atravessem a sua fronteira: agressões, ofensas, humilhação, drogas. Quando dizemos SIM ao que queremos dizer NÃO, o sofrimento vem. Sem a noção do seu limite a pessoa se deixa invadir ou afasta sem querer. Vamos cuidar dos "sins e nãos" necessários para não nos colocarmos em risco. Apreender o que é bom e afastar o ruim.
Se cada um honrar a sua fronteira evitará sofrimento e será respeitado.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Papo de brasileiro

Taxistas: alguns são muito engraçados... donos da rua, donos da verdade. O cara fez uma entrada bem "safada" na Avenida Santo Amaro. É claro que levamos uma buzinada na orelha. Daí ele inicia uma conversa, meio reclamação, de que as pessoas não são gentis:
"O brasileiro não é gentil, eu conheço o ser humano brasileiro desde que comecei a trabalhar com 6 anos. Essa gente no transito quer passar, e daí sai buzinando, não tá vendo que eu na frente? Ninguém pensa no outro. Isso é motorista? Só quer saber de passar e correr, só pensa nele. Se as pessoas fossem mais gentis... Olha eu tenho até vergonha de falar mas é verdade, o argentino é mais educado que a gente. Eles são meio judeus, ? Educados! Eles não roubam, são mais calados, tratam bem os outros, não falam mal dos seus patrícios. São patriotas mesmo. Mas agora aqui no Brasil, um fala mal do outro. O que falta é valor da tradição de respeito. Eu entendo de ser humano porque sou psicólogo. (Essa foi demais!! hahahahah). Eu fiz a faculdade da vida e sei que o brasileiro se puder ele apronta com o outro, engana...e blá, blá, blá".
Enquanto isso ele ia errando o caminho e falando que não engana... E eu de olho bem aberto, pensando: esse cara tá me sabotando.
"Eu não, nossa, eu não sou perfeito mas procuro fazer o meu lado. Se cada um fizer a sua parte o Brasil vai pra frente". E eu pensando: o senhor tem que virar a direita, não dá pra ir pra frente... E ele empolgado continuava: "Eu não sou daqueles que trapaceiam, se vingam, faz de tudo pra destruir o outro, rouba os outros na primeira, eu não. Não sou capaz de fazer mal a ninguém. Mas se eu pudesse eu batia no cara pra ele aprender, dava um safanão na orelha, pegava e torcia a orelha dele que ele ia ver só..." A essa altura a voz do cara engrossou, seu rosto moreno ficou rubro e seu punho "em riba" tremia parecendo querer gritar também.

Ai, ai, ai, ainda bem que chegamos... Cada figura que toca a minha alma...
Imaginem se eu conto que sou psicóloga?



sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Hinos que nos tocam

É lindo contemplar nossa bandeira subindo, balançando ao som do nosso Hino Nacional, que aos nossos ouvidos fazem toda a diferença. É o som que balança os brasileiros tanto quanto os ventiladores chineses que chacoalham as bandeiras. Dentre tantos o nosso hino é especial porque nos reconhecemos nele. Através dele entoamos uma voz harmônica - pelo menos tentamos! - que nos une em reverência quase que sagrada. Um som que mexe lá dentro e faz tremer. Temos um vínculo forte com nosso hino enraizado na nossa memória desde crianças. Grata herança dos poetas do século XIX.
Embora adore o hino da minha nação, que faz bumbar o coração e ativa as lágrimas, quero lembrar um trecho do hino da Independência, igualmente forte e significativo, em homenagem a todos os nossos atletas que marcam presença dentro e fora daqui:
...
Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
...
Parabéns, ó brasileiro,
Já, com garbo varonil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil
...
Hino da Independência do Brasil
Letra: Evaristo da Veiga
Música: D. Pedro I

Veja letra na íntegra: http://www.brasil.gov.br/pais/simbolos_hinos/hinos/Letra_indep/

E vc? Qual hino te toca?

Curiosidades:

A letra do hino nacional do Brasil foi escrita por Joaquim Osório Duque Estrada (1870 – 1927) - Poeta, teatrólogo, ensaísta, crítico e professor.
Tornou-se oficial no dia 1 de setembro de 1971, através da lei nº 5700.
http://www.suapesquisa.com/religiaosociais/hino_nacional_brasileiro.htm

A música é de Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Grande organizador da vida musical brasileira fundou e dirigiu a Sociedade de Beneficência Musical (1833), dirigiu a orquestra da Sociedade Filarmônica (a partir de 1834) e compôs valsas, peças para canto e piano (modinhas, lundus), um hino à Coroação (1841) e música religiosa. Escreveu ainda diversas obras de teoria musical.
http://www.2regiao.apac.org.br/pesquise/histhino/histhino.html

Superação com emoção

Maurren Maggi, outra paulista do Brasil.

Um motorista de taxi comentou comigo que a China nem comemora mais suas medalhas de ouro de tantas que conseguiu. Parece que eles não sentem mais tanta graça nas medalhas, até parece que ganhar ficou banal. Talvez julguem estar lutando por obrigação e o prêmio é um mera conseqüência. Não que falte raça, garra, mas parece que é tão certo, tão esperado, que tem um sabor diferente do nosso. Realmente feijoada tem mais sabor que espeto de escorpião.
Nossa fome não é menor que a deles: “medalha, medalha, medalha” como diria Dick Vigarista (personagem do desenho).
A expressão emocional é que faz toda a nossa diferença. Acompanhando a entrega da medalha de ouro à nossa atleta Maurren, nota-se sua alegria e esforço para manter o controle emocional. Ela vibra e canta nosso hino com firmeza até que surge a frase: “Terra adorada", nesta altura ela irrompe num choro de banhar a medalha. Por certo passou um “filme na sua mente” das suas lutas, privações, renúncias na nossa pátria amada, Brasil. De todos os apoios que buscou e recebeu, outros que devem ter sido negados. provavelmente desencorajada por alguns, desacreditada por outros... Enfrentou tudo e a si própria. Lutou com bravura, chegando lá. Não é brincadeira não, 7.04 m de distância.
O mesmo taxista comentou que essa distância é do tamanho da trave de futebol. Caramba! Como salta essa mulher! E que barriguinha sarada...
Seu choro, sua emoção é figura da nossa raça: brava gente, que bravamente corre atrás do sonho. Gente que não é brava, nem emburrada e nem fria, antes alegre e emotiva.
Nosso choro vem da profundidade da alma, do fundo da terra que é pátria, onde temos nossas raízes, sinais de pertencimento ao nosso lugar: pai-país. Que delícia que é ser brasileira!

Obs: Temos nossa primeira medalhista de ouro da história do atletismo brasileiro. Ela espera festa na sua recepção em São Carlos:

"Tomara que a prefeita faça uma festa com muito brigadeiro e refrigerante", pediu.
Site do Terra

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Caras e Bandeiras

Tempo de exibir bandeiras. Parece que isso acontece apenas em momentos de competições mundiais: Copa do Mundo, Pan-Americano e Olimpíadas. Eu gosto de Bandeiras.
É muito gostoso admirar um quadro completo das Bandeiras mundiais. De longe parece um monte de retângulos coloridos. Ao nos aproximarmos percebemos a configuração: Bandeiras. Mais de pertinho podemos reparar que reconhecemos algumas delas. Mas a grande maioria não se sabe de onde é e me sinto indiferente a elas. Percebe-se que o azul, o branco e o vermelho se repetem em várias delas, desenhando formatos únicos.
Cada representação carrega um conteúdo muito além do objeto. Uma bandeira é uma coisa, diria Gilberto Safra, importante psicanalista que explica, dentre tantos temas, que um objeto torna-se coisa quando é revestido de significado e de história.
É isso que sinto ao olhar um quadro de bandeiras. Muitos desenhos sem sentido afetivo. Mas quando localizo a minha bandeira, ela salta aos meus olhos. Ela brilha e faz brilhar o meu olhar agora revestido de sentimentos. Ela também se destaca por fugir ao padrão vermelho, branco e azul. Isso é o que chamamos de uma configuração que faz sentido: é como se todas as outras sumissem, e a sua ganha importância, fundamento. Ela diz algo sobre você e você se reconhece nela. Quando Cesar Cielo, o nadador desconhecido da grande maioria dos brasileiros, vence a prova dos 50 metros em Pequim (hoje, 15 de agosto de 2008) rompendo o jejum olímpico, o mundo se volta para ele. Os brasileiros se voltam a ele: Quem será esse cara? Onde ele treinou? Quem são seus pais? Curiosidade que reside no desconhecimento. Quando o mesmo Cielo levanta a Bandeira brasileira ao som do nosso Hino Nacional, algo mágico acontece e nos tornamos íntimos. Ele faz parte de nós. É nosso! Ele nos pertence e reconhecemos seu choro que se mistura com a nossa emoção.
Reconhecer Cielo, a partir de agora, é como reconhecer a nossa Bandeira em meio às outras (dentre cerca de 192 países).
Cielo é o nosso sentido Olímpico em 2008. Nossa Bandeira campeã! Viva o ouro da nossa Bandeira e viva o Ouro do Cielo, nosso brasileiro campeão.

Curiosidade: Uma equipe de intelectuais dedicou-se a elaboração da nossa Bandeira, sendo adotada pelo decreto no 4 de 19 de novembro de 1889. “A idéia da nova Bandeira do Brasil deve-se ao professor Raimundo Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil. Com ele colaboraram o Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica. O desenho foi executado pelo pintor Décio Vilares. Mais detalhes: http://www.on.br/glossario/alfabeto/b/bandeirabrasil.html

Cheguei...

Costumo ser moderna, mas vacilo um pouco para mergulhar em novidades. Tateio, xereto até a vontade virar uma comichão. Foi assim que cheguei aqui. Com uma boa palavra da jornalista e noiva mais feliz do ano, minha afilhadinha de casamento, que me alertou: “é fundamental manter a periodicidade”.
Como honrar esse compromisso? Talvez eu estoque comentários, artigos, pareceres, para não perecer e parecer que estou abandonando meu bebê-blog.
Começo com as apresentações:
Minha paixão é ajudar gente a ser feliz. Bem onipotente, né? Narcísico também, mas possível quando você encontra instrumentos para que o outro afine o seu próprio instrumento. É assim que ganho a vida! Tentando incentivar o outro a tirar a venda do seu olho, iluminar seu rastro, sentir o cheiro do seu corpo, encarar as cicatrizes e vislumbrar sua transcendência. Passo o tempo com o meu cliente checando possibilidades de mudanças e principalmente buscando sentido para a vida. Há choros e risadas, lamento, dor e arrependimento. Muitas vezes perdão autêntico e reconciliação com sua história.
Desgastante esse jeito de ganhar a vida... Fazer o quê, se mais nada tem graça?
É a graça que encontro no significado do contato com a humanidade do outro, tão igual e tão diferente de mim. É assim que vou me tornando gente, cada vez mais perto de Deus.